quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

sobre armazenamentos

Posso tentar descrever inúmeras vezes o mesmo sentimento, e todas suas versões ganharão suaves  reflexos do que era real. Atribuo isso ao tempo, a distância temporal entre acontecimentos. Nada tem haver com minha habilidade falha de recriar situações e narra-las amputando detalhes. Não, prometo que não.
Parece agora fazer anos, mas são só apenas 8 meses, descobri que superação em nada tem haver com esquecimento, não importa, de todas as lembranças contadas, e os momentos repassados como slide de casamento, de todas as tardes ansiosas, e os dias significativos, bem, de tudo, eu ainda me lembro, a questão mesmo são os sentimentos, eu não os trago de volta, não recordo o sabor da saudade antecipada, e mesmo que sinta falta é só de fora pra dentro, as vezes umas músicas chegam perto de despertar a velha alegria genérica, efêmera e insípida...
E então, passa. Não sinto nada. Me tornei o pó dos dias, a poeira alérgica das expectativas. Sou aquela que vive de histórias recortadas, mas ainda se lembra do quebra-cabeça inteiro. Eu superei, mas aquilo que queria entesourar para sempre, superei memórias, e agora... são somente isso.

- Myllena Vasconcelos

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vira os dias, avessa as horas.

Quando o momento te escapar entre as mãos, deixe-o escorregar para longe, devagarinho, até que não seja mais momento; apenas lembrança.
Você dirá a si mesmo, lamentando duas ou três vezes, que o tempo se encarregará de enfraquecer sua força, a memória dos anos já nem terá, nem trará o mesmo sentimento.
E na frente, da vontade e dos dias, estará a tal da experiência; consoladora e apática, enquanto recolhe com zelo, as sobras da alegria esquecida. 
Guardemos no bolso todo bom sentimento, ainda que reste somente uma parte, há muitas bagagens, e já não mais, suportamos peso.
Afinal vivem nos dizendo "estão por vir melhores momentos!" como quem diz "tenha um pouco de esperança".
Por isso vivemos,
de guardar espaço

-Myllena Vasconcelos

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Por essa e todas as outras, despedidas.

Dobrei o guardanapo várias vezes enquanto pensava na vida... faço isso inconscientemente sempre que tenho algum papel na mão. Então olhei em volta, respirei fundo, tão fundo, que parecia mais um suspiro longo depois de uma crise de choro. Aquela mesinha da lanchonete era o único lugar possível de estar,  já não me cabia lugar nenhum no mundo, todos os outros gritavam saudade. Eu, em vão, cantava os segundos em notas agudas, e ria, ria pois, tudo era patético demais pra manter a seriedade.
A vida, os lugares, as pessoas.
É como reservar aquele último pedaço de sobremesa, na esperança de prolongar a sensação, concentrar todo sabor no final, e no minuto seguinte, estarmos sem nada. 
Não sabia dizer adeus, não ainda. 
precisava estar pronta para jogar algumas coisas fora, aceitar a ausência de certas risadas e o vazio dos mesmos lugares. 
é como dizem "tudo passa"
Mas é que eu odeio viver com saudades.

- Myllena Vasconcelos

sábado, 7 de novembro de 2015

Agora é futuro, amanhã já é hoje.

Duas tardes atrás, e estávamos ali paradas encarando os derradeiros minutos de nossas companhias... faz tanto tempo que esteve aí, que sequer consigo lembrar como cheguei.
Minha resistência a mudanças foi sempre descomunal, como todos os protestos para arrancar dentes de leite. A vida, em toda sua generosidade, me iludia com a falsa ideia de perfeição, caminhava segura por entre as fases, esquivando-me dos processos dolorosos de amadurecimento.
Me gabava por manter a zona de conforto, como tesouro, conquista.
Sabe, não sei quantos pedidos moram numa virada de ano, apenas que os momentos de transição são mágicos, apesar de tristes. Lembro sempre de ser invadida pelas expectativas do ano seguinte, enquanto o vazio desmedido de abandonar o velho me tomava ar. Ali, parada, quase etérea, sentia os últimos segundos partirem. impossibilitada.
Será difícil, é difícil, e agora não só quilômetros mas também meses nos separam. Quando estiver de volta, saiba vida, que em verdade, jamais retornei.

-Myllena Vasconcelos


sábado, 1 de agosto de 2015

daqui a vários dias utéis e inutéis

Era novembro, mesmas portas e janelas.
Parecia chover, mas só por dentro, lá fora, sempre festa.
A alegria armazenada em todo abraço apertado, fez-se terna e eterna em dias solitários, se perpetuando pelas semanas descabidas e os meses monótonos. Eu sorria de segunda a sexta, toda manhã de aula reclamava estufada de felicidade ao sair da cama, e olhar o espelho anunciar mais um dia da minha incansável juventude. O que seria, se não felicidade? Nada menos nobre.
Guardo em silêncio, numa caixa de memórias, todas essas histórias que um dia irei narrar. Com toda alegria e dor que é ter que reviver metades. Os dias mais felizes, e os que nos prendiam na cama, A melhor notícia, e todas as outras que puxaram o tapete,
O primeiro emprego, os amigos de infância, os amores calejados, e as falsas esperanças.
Uma coleção de tudo que coube, no que sou, e no que me tornei.
Reescritos em epistola, endereçados em anônimo.

-Myllena Vasconcelos
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